sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Ontem olhei o espelho

 Ontem dei por mim a ver-me ao espelho...


A pensar se afinal foi isto...se era só isto que era a vida

Com a nostalgia de uma criança que, na sua sagacidade, terminou o puzzle ou a construção de Legos em tempo recorde... Mas enquanto os que a rodeiam; olham em espanto; repletos de surpresa e admiração e sentimentos que lhes falta palavras para descrever, embora os anos vividos já não lhe justifiquem tais faltas...; eu deixei-me assoberbar, no sentimento ingénuo e das vontades de continuar a espantar e a causar reações que; quem as sente; não as sabe descrever. A bater recordes e a escrever o meu nome em algo mais que as capas dos livros e os enunciados dos testes...

Dei por mim a sentir-me uma fogueira que ardeu rápido de mais, queimando todo o seu combustível numa tentativa de iluminar e aquecer todos em volta, para depois ser deixado como uma brasa, uma memória que pronto será apagada, e pronto será esquecida por aqueles que ouviram falar de tal épica fogueira. E logo depois, esquecida até por aqueles que a viram ao longe, e no final, por aqueles que sentiram o seu calor; por aqueles por quem por eles ardi...

Senti o consequentemente peso e preço que vem com o conseguir os objectivos, pouco prováveis, a que alguém se propõe...

E entendi que é mais simples falhar e cair; e ser chamado humano, do que conseguir, e esperar que sejamos a constante fonte de surpresas e mudanças e evolução e tudo isso que eles não tem palavras nem imaginação ou capacidade de imaginar ou descrever...mas uma esperança muda e escondida que tal se premamessa...

Qual João...que trepou o pé de feijão , apenas para bater de frente com um gigante que o fez deparar com a sua pequenez...uma escala da sua incapacidade de ser a diferença que todos esperam que ele pudesse vir a ser...

Chamado pelos meus demônios , incertezas ocupam os vazios deixados pela força da natureza que outrora me senti, vazios deixados pelos sonhos partidos e aqueles que me foram roubados, pelos poemas inacabados, copos por levantar, abraços que nunca serão dados...

Hoje olhei-me ao espelho...
E fui lembrado que ainda posso me ver ao espelho

Estou aqui, e tenho a benção de estar aqui
E a visão que não me permite ignorar tal facto

Vejo que sou um processo inacabado. Eternamente inacabado e em constante movimento e evolução. Tal facto faz com que a ingenuidade de criança desvaneça e me permita olhar para aqueles Legos novamente. Entender que as peças podem encaixar de maneira diferente, que posso criar fora das diretivas e direções que tentaram me guiar.
Sinto o arrefecer do por do sol e a influência do luar, ergo uma bebida ao céu, em honra aqueles que já não estão aqui para brindar.

Olho e relembro do que aprendi : que apenas uma brasa é o suficiente para reacender um fogo. Que era como o ser humano primitivo transportava a magia ardente de um lado para o outro. E, nesse caso, ao contrário do conhecimento que parece ser empírico: enquanto há fumo, há esperança   

O coração bate, e a crueldade do mundo lembra-me forçosamente que há poesia no bater de asas de uma borboleta... E tenho a sensação que com inspiração e uma caneta; talvez um pouco de dom ou bom tom; posso deixar tal sensação registrada.

Da vida não levamos nada, então mais um motivo para dar tudo. Sou sortudo, olho-me ao espelho , e não penso " mais um dia..." Como maldição, mas como benção.

Vá para onde for, sei que não irei sozinho

Olho-me ao espelho...

Deixei de me preocupar com o " onde " onde supostamente devo chegar...
Hoje aprendi a apreciar o caminho

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