sexta-feira, 12 de abril de 2024

Soldadinho de chumbo

 Soldadinho de chumbo 

De volta a caminhar 

Perdido nesse mundo 

Que pensaste abandonar 

Em prol de uma bandeira 

De um juramento e palavra 

Que julgavas verdadeira 

E que, verdadeiramente te tentou deixar sozinho

As palavras não contam para o banco 

E não importa o quanto o sentimento for franco 

Quando a tua perna está quebrada 

Ainda que saibas do que és capaz

Para essas cores, tu já não vales nada 

Ainda que fosses guerreiro da verdade e soldado da paz 

Calma rapaz...eles não sabem, nem querem saber 

Do que fizeste para conquistar

Esse lugar que fizeste por merecer 

Quando a política vem camuflada

E o camuflado vem de cores de partidos

E tu és só um soldado partido

Por jogos e acordos , por interesses que não se podem entender 

Ainda que não saibas o significado de desistir

Ainda que tenhas jurado uma bandeira 

Até a tua ultima gota de sangue se esvair 

Tu sabes...o incomum virou normal

Uns lutam por ser o número um 

Outros dão tudo , não importa o quanto tudo esteja mal 

Mais um dia...mais uma volta do mundo ao sol

A vida mostrasse dura

Para quem foi mole

Mas toda esta conjetura 

Deixa cicatrizes em quem nunca desistiu 

Para quem perdura e luta

Na cara da dificuldade agradeceu e sorriu 

Filho da pátria que o pariu 

E se pergunta o que será de nós 

Nada que ficar surpreso 

Foi assim no tempo dos meus pais 

Já era assim no tempo dos meus avós 

E tu, que não sabes para onde vais

Ainda que saibas para onde queres ir

Soldadinho de chumbo 

Filho duma patria que te ousou parir 

Agora és pària 

Joguete num jogo que não quiseste jogar 

Quando tudo o que ousaste procurar foi servir 

Agora não sabes como sorrir 

Para onde te virar...

Qual o caminho a seguir 


quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Chuva

 Chuva...

Cai e lava-me a alma 

Leva-me tudo o que me leve a calma 

Que eu não tenho medo de me molhar 

Não temo escorregar na lama 


Então cai chuva...

E traz-me alento

Faz com que o tempo passe mais lento 

Que não tenho pressa de o ver passar 

Que quero cumprir cada promessa

Ver florescer cada flor em rebento 

Desabrochar em botão 

Florir cada sentimento 

E que se enraize no coração 

Cai chuva...

E dá de beber ao meu crescimento

Que eu também sou flor 

Que eu também sou nuvem 

Que eu também bebo amor 


Cai, para que te ouça sob o meu telhado 

Embalando o meu adormecer 

E que cada sonho meu seja realizado 

E desse sonho possa continuar a beber

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Vicio

 Meu vicio...minha tusa


Fonte de inspiração 

Batida de meu coração 

Minha musa 


Porque ver-te despida

É mais do que te tirar a blusa 

É dedicar-te parte da vida

É ver-te como és, sem nada a esconder 

É segurar tua mão quando tens medo 

É em segredo fazer-te gemer 

São os momentos de loucura 

Unhas cravadas nas costas 

Suspiros no teu ouvido 

E eu sei bem do que tu gostas 


São os momentos de ternura 

O aproveitar mais um segundo contigo 

Antes de sair para trabalhar 

E mal saio daquela porta 

Já só me importa poder voltar 

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Loucura

Vivo num estranho limbo entre os vectores que separam as dimensões...


Por vezes a procura pelo caminho que demonstra sanidade, faz-me duvidar que tal caminho faça sentido.
Repleto de máscaras e supostamente certos e politicamente corretos e telhados de vibro que podem se quebrar se, sem querer , fizermos alguém sequer repensar os fundamentos da religião que tanto apregoam.

Vontade de os desafiar a jogar uma roleta bíblica...
A levantar a minha voz, em tom tão sarcástico como a minha expressão sorridente, e desafiar todos para abrirem os seus livros sagrados numa página ao calhas, e seguir exatamente o que lá está exposto durante o resto do dia.

O último a ser preso...vence

Outras vezes sinto-me subterrado, entre os escombros do que eram outrora os meus sonhos e certezas e objectivos...

Custa respirar entre este ar poeirento, custa olhar para trás e ficar confuso, entre as vezes que não me reconheço no que fui, e as vezes que; o que fui; não reconhece ou aceita quem está perante ele...

Dou por mim a pensar que seguir a suposta sanidade das massas é, isso sim, um atestado selado de loucura.

Por vezes apontam-me os dedos...julgam os pequenos detalhes que falhei em esconder. Ou os que revelei, para dar uma pequena ideia do que sou, por trás das máscaras e leis e supostos corretos que tão bem sei usar e dizer mas que nada me dizem e em nada me parecem úteis... Apenas para ver a expressão assustada e confusa desses humanos, que mal sabem que mal tocaram a superfície de algo tão profundo...


As vezes...dou por mim a olhar no espelho, dentro do reflexo de mim mesmo.
Sabendo e sentindo o quanto sou capaz de apreciar a loucura e tudo aquilo que tenho escondido dentro de mim mesmo...

E, nesses momentos, procuro vislumbres de sanidade para acorrentar essa caixa de Pandora que sou. Sabendo que gostaria demasiado de deixar alguns desses monstros que sou virem cá fora para brincar.

E esses, fazem a minha própria pele arrepiar em calafrio

Vamos seguindo

 Tempo voa...

E, ainda que por vezes arrastados, vamos seguindo em frente 
Mesmo quando magoa
Na loucura de repetir erros e esperar um resultado diferente
Não importa quanto doua
E há quem doe
Tanta falsidade e dor
Misturado em promessas de para sempre
E juras mascaradas e apelidadas de amor

Mas seguimos em frente
As vezes fugindo...
As vezes olhando e sentindo saudades do que ficou para trás

Ás vezes correndo e procurando
Outras reticentes, adivinhando as tempestades que o amanhã trás

Sonhamos, tentamos, falhamos
Sorrimos...é assim que nos mascaramos e evitamos perguntas
E nos fazemos parecer aos humanos
Erramos...
E talvez o erro tenha sido esse
Nos tentar parecer com essa criatura
Que padece mais de si
Que qualquer outra coisa que tenha caminhado , ou rastejado, ou esteja por inventar
Verdade dura...

Mas nós tentamos
Ainda que alguns dias acorde
Com vontade de voltar a dormir
Como uma música em que a guitarra só tem um acorde
Fico confuso, se ei de gritar ou fugir
Se ei de calar ou sorrir
Se ei de lutar
Se ei de seguir
Se sequer consigo...
Se realmente é possível fazer algo diferente
Mas tentamos...
Respiramos fundo, e damos mais um passo em frente

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Não sei não olhar ...

 Luto....eu juro que luto, tento defender o que me é mais importante.


Mas a vida rouba e deixa-me de luto, faz sentir que " felicidade" e " justiça " são uma memória distante
Que nada dura mais que um instante
Nada mais que a realidade dura...

Luto...mas o coração de luto falha batidas cada vez que lhe roubam mais um pedaço...

Por cada estrela no céu...
Por cada promessa por cumprir...cada garrafa por abrir e cada viagem por fazer...
Luto...mas o luto faz-me sentir muito mais velho do que os poucos anos que por mim passaram
Os danos mais expressivos que expressivos sorrisos que costumavam ser imagens de marca...
Agora tudo se parece miragens
E já não sei se aprecio tudo mais ou menos
Se a incerteza me faz ver a beleza
Ou me assombra pela constante repetição
Pelos momentos de escuridão
Por vezes dou graças por mais um dia
Por vezes amaldiçoo cada hora que passa , cada tic, cada toc
Que contam as horas passadas desde o último abraço, o último toque
A última garrafa de vinho, a última Super Bock
Memórias vêm a reboque
Sou abalroado pela nostalgia

Como sigo para a frente
Se custa cada passo, mas não sei não olhar para trás...

Ontem olhei o espelho

 Ontem dei por mim a ver-me ao espelho...


A pensar se afinal foi isto...se era só isto que era a vida

Com a nostalgia de uma criança que, na sua sagacidade, terminou o puzzle ou a construção de Legos em tempo recorde... Mas enquanto os que a rodeiam; olham em espanto; repletos de surpresa e admiração e sentimentos que lhes falta palavras para descrever, embora os anos vividos já não lhe justifiquem tais faltas...; eu deixei-me assoberbar, no sentimento ingénuo e das vontades de continuar a espantar e a causar reações que; quem as sente; não as sabe descrever. A bater recordes e a escrever o meu nome em algo mais que as capas dos livros e os enunciados dos testes...

Dei por mim a sentir-me uma fogueira que ardeu rápido de mais, queimando todo o seu combustível numa tentativa de iluminar e aquecer todos em volta, para depois ser deixado como uma brasa, uma memória que pronto será apagada, e pronto será esquecida por aqueles que ouviram falar de tal épica fogueira. E logo depois, esquecida até por aqueles que a viram ao longe, e no final, por aqueles que sentiram o seu calor; por aqueles por quem por eles ardi...

Senti o consequentemente peso e preço que vem com o conseguir os objectivos, pouco prováveis, a que alguém se propõe...

E entendi que é mais simples falhar e cair; e ser chamado humano, do que conseguir, e esperar que sejamos a constante fonte de surpresas e mudanças e evolução e tudo isso que eles não tem palavras nem imaginação ou capacidade de imaginar ou descrever...mas uma esperança muda e escondida que tal se premamessa...

Qual João...que trepou o pé de feijão , apenas para bater de frente com um gigante que o fez deparar com a sua pequenez...uma escala da sua incapacidade de ser a diferença que todos esperam que ele pudesse vir a ser...

Chamado pelos meus demônios , incertezas ocupam os vazios deixados pela força da natureza que outrora me senti, vazios deixados pelos sonhos partidos e aqueles que me foram roubados, pelos poemas inacabados, copos por levantar, abraços que nunca serão dados...

Hoje olhei-me ao espelho...
E fui lembrado que ainda posso me ver ao espelho

Estou aqui, e tenho a benção de estar aqui
E a visão que não me permite ignorar tal facto

Vejo que sou um processo inacabado. Eternamente inacabado e em constante movimento e evolução. Tal facto faz com que a ingenuidade de criança desvaneça e me permita olhar para aqueles Legos novamente. Entender que as peças podem encaixar de maneira diferente, que posso criar fora das diretivas e direções que tentaram me guiar.
Sinto o arrefecer do por do sol e a influência do luar, ergo uma bebida ao céu, em honra aqueles que já não estão aqui para brindar.

Olho e relembro do que aprendi : que apenas uma brasa é o suficiente para reacender um fogo. Que era como o ser humano primitivo transportava a magia ardente de um lado para o outro. E, nesse caso, ao contrário do conhecimento que parece ser empírico: enquanto há fumo, há esperança   

O coração bate, e a crueldade do mundo lembra-me forçosamente que há poesia no bater de asas de uma borboleta... E tenho a sensação que com inspiração e uma caneta; talvez um pouco de dom ou bom tom; posso deixar tal sensação registrada.

Da vida não levamos nada, então mais um motivo para dar tudo. Sou sortudo, olho-me ao espelho , e não penso " mais um dia..." Como maldição, mas como benção.

Vá para onde for, sei que não irei sozinho

Olho-me ao espelho...

Deixei de me preocupar com o " onde " onde supostamente devo chegar...
Hoje aprendi a apreciar o caminho