Gosto da noite

 Gosto da noite ...

Tudo é mais tranquilo

Menos ruido de pessoas e viaturas pelas ruas

O que permite que o ruído que tenho em mim desvaneça um pouco enquanto olho pela janela para o céu estrelado, e contemplo um horizonte familiar, recordando memórias e inícios de histórias que nunca pensei que teriam um ponto final...

Sim, sou louco ( ou ingénuo) o suficiente para acreditar que algumas histórias não têm ponto final, e; como uma traça em direção á luz, dou por mim a bater contra esse objectivo uma e outra vez até ficar inconsciente no chão 

Gosto da noite...

Cruzo com menos pessoas que me perguntam como estou. Não tenho que fingir e sorrir e dizer que está tudo bem por pura cortesia de responder a quem só me pergunta isso como desbloqueador de conversa que na verdade ninguém quer ter.


Posso apreciar a paisagem sem que vinte indivíduos passem de bicicleta naquele momento que até me apeteceu fotografar aquela borboleta a pousar no cogumelo porque me parecia poético... Mas tanto a borboleta como o cogumelo estão agora tão pisados como os meus sonhos. 

Posso me deitar numa pedra no meio do nada sem ter de ouvir alguém a comentar que " aquele tipo deve estar bêbado ...ou a sentir-se mal, ou a sentir-se mal de bêbado...talvez esteja triste..."

Pois...ou talvez só queira estar assim, como me dá vontade, sem ser objeto de estudo filosófico das duas senhoras que vieram passear os cães, mas não trazem os saquinhos onde poderiam meter tanto os dejetos dos cães como os comentários delas.

Já não sinto que o sol me aqueça, mas a lua cada vez mais me dá tranquilidade.

Dou por mim às 4 da manhã a escrever isto, em puro devaneio enquanto olho por uma janela que não é minha, e não há uma chamada de telemarketing para me interromper. Não há olhos postos em mim, aparte de um par deles no 3° direito do prédio em frente, que me vão fitando ocasionalmente, talvez por ser uma cara desconhecida, talvez por se indagar se serei mais uma pessoa que não consegue dormir, ou filosófe  sobre mim também e o que me mantém às 4 da manhã a uma janela, se não é para fumar. Por estranho, não me incomoda em nada essa possibilidade, ao contrário das senhoras dos cães, mesmo que ela pense que estou bêbado á janela, de noite ninguém o julga.


Ela acena e fecha a janela com a calma que eu ontem fechei meu peito. E eu, fito as estrelas e as luzes e a calma, disfrutando da solidão que trago como companheira.

Fiz o luto de algo que ainda sinto vivo, mas que a escuridão que pedi emprestada para preencher meu vazio, me sussurra que morreu faz tempo. 

E termino de escrever este devaneio poético, na internet onde tudo está aos olhos de tudo, mas meu anonimato e o desinteresse do mundo em mim, faz com que seja tão seguro e secreto como um diário que ninguém lê.

Cada vez gosto mais da noite...


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