quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Dispo...

 Dispo a roupa...

Com o sabor de uma promessa a mim mesmo

Que, daqui para a frente, será a única coisa que voltarei a despir

Que a mascara que me protegia passará a ser a mascara que sou, e os muros que tinha á minha volta nunca se voltarão a baixar. Que foi a ultima vez que mostrei quem era debaixo do que me guarda...em que expus o meu coração, só para o ver ser utilizado como um alvo de dardos...

Onde todas as minhas boas intenções foram instrumentalizadas para proveito de quem não me soube aproveitar, mas apenas aproveitar-se de mim...


Coloco o corpo debaixo do chuveiro...

A água quente marca a pele e torna-a rosada...

Era suposto doer...

Mas talvez a dor que sinto por dentro me distraia e me deixe alheio á dor que deveria sentir por fora...

Talvez o gelo que envolve meu peito seja tão frio que a água não me chegue realmente a queimar

Talvez seja esta letargia...a dormência que me convida a não sentir, para não sofrer...para que possa dormir sem ser assombrado pelas vozes que; ora sussurram ora gritam e me fazem enlouquecer....


Saio e coloco as vestes... Com a certeza intrínseca que será a única coisa que permitirei a alguém voltar a despir de mim...

Porque nunca mais me desnudarão do meu ser, dos meus sonhos. E nunca mais irão ter a oportunidade de retirar as minhas mascaras para espreitarem quem eu fui, na tentativa de me fazerem voltar a ser isso de novo, só para me lembrarem depois, a tons de dor, porque é que havia decidido deixar de ser-lo 

Pois que me marquem o corpo, mas nunca mais me marcaram a alma. 

Pois que me prometam que são diferentes, que desta vez será diferente...

Que eu serei diferente...do que fui até agora, passando a ser para sempre o que agora sou.

Tão frio que nem a água que marca a pele aquece ou faz sentir 

Que a escuridão me abrace e me faça seu...para que ninguém mais me convença num abraço que poderia ser de outro alguém, só para que depois me fizesse sentir que nem sequer era de mim mesmo

terça-feira, 19 de novembro de 2024

Queimei...


Dizem que o amor é fogo

Que arde sem se ver

E tu dizias que teu coração estava frio

Então incendeie o meu, 

Só para te aquecer 

Por ti queimei...e ardi

Dei tudo o que sabia 

E nem sei quanto mais inventei 

Para que dissesses, um dia 

" Tive tudo que sempre sonhei..."

Tentei ser magia...

Que fosse um conto de fadas 

Tentei ser tudo

Para acabar em nadas


Dizias que tinhas frio

Por isso ardi

Para te aquecer

Para te dar alento

E de mim...

Deixaste-te esquecer 

E sobraram apenas cinzas

Sopradas ao vento 

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Destinados a ser

 E foi quando te toquei pela primeira vez

Que finalmente entendi

Que encontrei a resposta a todos os porquês 

Porque tudo o que procurava, estava em ti


Já sentia a tua falta

Ainda nem sequer te conhecia 

Em meu peito, um coração que se exalta 

Que te anseia a cada dia

Cada sorriso teu parece magia

Fico hipnotizado a admirar 

Pareço um puto apaixonado

Que só te quer mimar...


E até pensaram que era passageiro

Mas o que somos, veio para ficar

Sabíamos que era amor verdadeiro

Ainda que não soubessemos explicar


Como se estivéssemos destinados a ser

Como se já o tivéssemos sido

Como se te procurasse há várias vidas

Como se só fosse completo, contigo

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Sou o medo

 Sou aquilo que não vês 

Sou a incerteza no meio da escuridão 

Sou o medo e os porquês 

Que palpitam em teu coração 

Sou o sussurro que chama

Mas não tens certeza de ouvir 

Sou a coisa debaixo da cama

E a ânsia de correr, fugir 

Sou a tua imaginação 

E danças na ponta de meu dedo

Sou demônio...sou fantasma

Sou teu dono

Sou teu medo


quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Na noite que a traí

 Disse que a traí, naquela noite 

No meio de toda a gente que nos conhecia 

Porque trair não é só agarrar alguém 

Mas olhar alguém e sentir magia 


E eu dei por mim, ébrio e entorpecido 

A ver aquela miúda dançar 

E a imaginar tela comigo 

Dei pelo meu coração acelerar 

A vontade de a tocar 

Saber o que a levava a dançar assim 

Querer sentir o seu sabor 

E ter o seu calor só para mim


Eu contei-lhe, que a traí em pensamento

Mas a verdade era mais complicada

Porque a menina da estrela que eu vidrei 

Era, afinal, aquela que eu já namorava 

E, naquela noite, novamente me apaixonei


sábado, 26 de outubro de 2024

Copo meio vazio

 Sou o meio vazio do copo

Sou o que ainda não é

Sou louco

Sou foco, força, fé 

Sou o que ainda irá ser 

Sou a parte vazia 

O que falta fazer nesse dia 

O que ainda se vai aprender

Sou a tela em branco 

Pronta, disponível a pintar 

Sou sentimento franco

E o que não se sabe explicar 


Sou o vazio

Pronto para se preencher 

Inspiração da brisa à beira rio 

Que faz o peito vibrar 

E o coração tremer 


Sou a curiosidade 

Centelha na escuridão 

Sou a sede pela verdade 

Sou o que ainda não sabe o que deve ser 


Sou arrepio, calafrio 

Sou aluno e aprendiz 

Sou o que ainda não se diz

Sou copo...meio vazio


domingo, 11 de agosto de 2024

Eus

 Quantos eus eu já fui 

Quantos ficaram pelo caminho 

Quantos se perderam 

Quando para me encontrar, fiquei sozinho 

Quantos eus eu já quis ser 

E de quantos eu desisti 

Alguns tinham de ficar para trás 

Para eu conseguir chegar até aqui 

Quantos eus eu realizei 

Com um toque de sonho realizado, 

Daqueles que foram pedidos a uma estrela cadente 

Outros, deixados de lado 

Porque se não eu, seria alguém diferente 

Quando tenho de ser fiel a mim mesmo

Mas encontrar um eu que mereça que lhe seja fiel 

Alguns amargos, desconfiados

Outros doces, com travo de mel 

Quantos eus inspirados 

Quantos não se conseguiram inspirar 

Quantos eus eu ainda sou

Quantos ainda virei a alcançar 

Como o virar da folha 

Encontro mais sobre este eu, num poema 

Num momento de inspiração

Ou na resolução de um problema 

Porque a vida não tem uma equação 

Uma resposta única e correta 

Sei que este não é meu eu final

Mas um passo mais no processo 

Porque no dia em que achar que só sou um eu 

Começarei a andar para trás, em retrocesso 

Quantos eus eu já vi mal 

Quantos lutaram por um eu melhor 

Quanta luta, lágrimas, suor 

Quantos quiseram desistir do amor 

Mas nenhum eu poderia ser eu...sem amar 

Porque só resta desistir 

Para quem se recusa a acreditar 

E se este eu; hoje; não conseguir

Eu levanto-me como um outro alguém 

Disposto a voltar a tentar 

Repetir, reinventar 

Um eu é inspirado

Outro só saciado quando sente que pode inspirar 

Outros eus, e outros outros, 

Porque seja quem eu vier a ser 

Há coisas que qualquer eu

Não consegue não fazer 

Enraizado, vincado no âmago e essência 

Quantos eus ignoram a política 

Cada um sente diferente a religião 

Uns procuram a resposta

Outros divertem-se com a ciência 

Das coisas...do ser

Nenhum eu pode perder tempo

Porque não sabem o tempo que eu irei ter