Dispo a roupa...
Com o sabor de uma promessa a mim mesmo
Que, daqui para a frente, será a única coisa que voltarei a despir
Que a mascara que me protegia passará a ser a mascara que sou, e os muros que tinha á minha volta nunca se voltarão a baixar. Que foi a ultima vez que mostrei quem era debaixo do que me guarda...em que expus o meu coração, só para o ver ser utilizado como um alvo de dardos...
Onde todas as minhas boas intenções foram instrumentalizadas para proveito de quem não me soube aproveitar, mas apenas aproveitar-se de mim...
Coloco o corpo debaixo do chuveiro...
A água quente marca a pele e torna-a rosada...
Era suposto doer...
Mas talvez a dor que sinto por dentro me distraia e me deixe alheio á dor que deveria sentir por fora...
Talvez o gelo que envolve meu peito seja tão frio que a água não me chegue realmente a queimar
Talvez seja esta letargia...a dormência que me convida a não sentir, para não sofrer...para que possa dormir sem ser assombrado pelas vozes que; ora sussurram ora gritam e me fazem enlouquecer....
Saio e coloco as vestes... Com a certeza intrínseca que será a única coisa que permitirei a alguém voltar a despir de mim...
Porque nunca mais me desnudarão do meu ser, dos meus sonhos. E nunca mais irão ter a oportunidade de retirar as minhas mascaras para espreitarem quem eu fui, na tentativa de me fazerem voltar a ser isso de novo, só para me lembrarem depois, a tons de dor, porque é que havia decidido deixar de ser-lo
Pois que me marquem o corpo, mas nunca mais me marcaram a alma.
Pois que me prometam que são diferentes, que desta vez será diferente...
Que eu serei diferente...do que fui até agora, passando a ser para sempre o que agora sou.
Tão frio que nem a água que marca a pele aquece ou faz sentir
Que a escuridão me abrace e me faça seu...para que ninguém mais me convença num abraço que poderia ser de outro alguém, só para que depois me fizesse sentir que nem sequer era de mim mesmo