quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Tempo

Hoje decidi dormir cedo
Deitei, mas não consigo adormecer
Dou comigo a pensar
Perdido, esquecido e reticente
Pensando quem raio és tu
Dizem que tudo curas, nunca te vejo presente
Não és vento, mas tudo levas
Todos esperam que passes
E se passam quando não esperas
Todas as palavras, as mais porcas e as mais sinceras
São te dedicadas
Te ofendem, depois rezam por ti
Mas quem és tu?
Com o teu passar a pedra passa a areia
Usam essa areia para te contar
E hoje, minha alma cheia dum sentimento vazio
Pergunta porque raio não te posso controlar
Sentado a beira rio, sou só mais um
Que não te aproveito, te desperdisso
Passas, sem eu dar por isso
E depois peço só um pouco mais de ti
Para uma palavra, um abraço,
De quem hoje já não está aqui
No relógio não ocupas espaço
Mas as vezes fazes falta
Quando não temos mais de ti
Para estar com aqueles que fazem falta
Mas afinal o que és...
Como posso eu te prender?
Tento te agarrar
Vazas pelos meus dedos
Não consigo te entender, as vezes me levas a enlouquecer
Outras não te tenho...
Enfrento os meus medos, tenho de os enfrentar
Hoje deu-me para beber
Para escrever
Falar com quem não pode ouvir...
Fingir que está tudo bem
Para conversar contigo,
Que nunca ouves ninguem
Que sempre foste falso amigo
Tantos deixam tudo para depois
"Amanhã é que vai ser"
Mas tu não respeitas planos, nem futuros, nada a dois ou a futuro ou a porra nenhuma
Tantos tolos pensam que te têm, quando ninguém te pode ter
Nem ver nem medir
Tempo, o que raio és tu?
Hoje só queria um pouco mais de ti
Junto de quem levas-te a vida, cedo de mais...
Tu que és mais louco que eu
Mais negro que o céu nesta noite...
Tu que todos querem
Que todos ofendem...
Tempo...

E eu

E eu...
Que tanto sei, que tanto sou
Que sei que nada sou sem vôs...
Louco e sem voz
Pois apenas há liberdade
Se vos seguro presas em meus braços

Sem isso, invade o peito
Essa saudade, fico sem jeito
Sem vontade para nada

Não vos largo por nada
Embora tantas vezes tenha de me afastar
Por dias e semanas
Por quilómetros sem fim

Mas mesmo a meio mundo longe
Sois tudo para mim
Meu certo, mesmo se errado
Meu perto, mesmo se afastado

Eu, que tudo sei
Só sei que não sou nada sem ti
E eu, que tudo tenho
Não tenho nada sem te ter em meus braços
Sem teus abraços, sou surdo se não te posso ouvir

Para quê a minha boca
Se não te posso beijar, e não planeio sorrir

E eu...que parece que nasci soldado
Não sou de ferro, meu partido não pode ser soldado
Mas a chuva me deixa enferrujado
Quando não estas para me cuidar

Camões diz que amor é fogo que arde sem se ver
Mas ele só tinha um olho...não viu bem
Pois vê-se e sente-se
Vejo-o quando me vejo refletido no brilho do teu olhar
Quando te vejo, de alma despida na minha cama
Até se ouve, no som do silêncio de quem se ama

E eu, que não sou sequer eu sem ti
Que não sei nem sinto
Se sei que não te sinto

E eu